domingo, 4 de março de 2012

Jesus, em minha vida, eu posso ter!

Há muito tempo, considerando meu curto percurso de vida como jovem adulto, em meados do ano de 2001, participei pela primeira vez de um retiro espiritual, uma experiência única.
 
Naquela ocasião tive uma experiência sem precedentes em minha vida, pois "conheci ao meu Jesus". Este foi realmente um momento em que o conheci, e nos tornamos "conhecidos", mas ainda não éramos amigos.
 
Inúmeros outros encontros sucederam àquele primeiro seminário, no mínimo dois ao logo de cada ano, alguns como participantes, outros como organização. Deste então, participei mais assiduamente das missas, reuniões de oração, estudos bíblicos, missões, evangelizações nos lares, pregações,... tomei realmente parte das atividade eclesiais. Ao longo destes anos comprei diversos livros sobre religião e religiosidade, documentos da Igreja, bíblias de estudo, procurei conhecer e aprofundar a minha fé neste Jesus.

Esta busca foi (e me é) bastante útil. Procura, aliás, que nunca acabou e deve ser incessante. Tudo isso me tornou mais “conhecido” de Jesus, mas amizade não é apenas conhecer e deixar-se conquistar pelo amor dEle.
 
Mas afinal, a que ponto eu quero chegar?

Esta semana vi o título de um livro que me chamou a atenção: "Por que Você Não quer Mais ir à Igreja?" (Wayne Jacobsen e Dave Coleman). E me chamou a atenção exatamente porque ao longo destes mais de dez anos certamente outras mil pessoas, sem nenhum exagero, compartilharam comigo esta mesma experiência com Jesus, participando como ouvinte ou trabalhando nos retiros nas mais diversas equipes (pregadores, músicos, limpeza, ornamentação, cozinha, intercessão, teatro, ...). Eis a pergunta: Onde estão estas pessoas?

Com a grande maioria destas pessoas tive pouco ou nenhum contato, outros, no entanto, tornaram-se bons colegas e companheiros preciosos, em alguns descobri grandes amigos e uma se tornou, até mesmo, minha esposa. Mas a questão, afinal, não é o meu relacionamento com estas pessoas, é o relacionamento delas com este Jesus que lhe foi apresentado um dia.

Longe estou de desejar que todos continuassem caminhando no mesmo grupo, no qual eu ainda tento permanecer, não sei ainda por quanto tempo. Muita gente cresceu e até mesmo envelheceu, alguns casaram, tiveram filhos, outros ingressaram na faculdade (muitos graças a Deus), mudaram de cidade, de grupo, de religião, de emprego, mudaram... Em fim, a vida continua, e não poderia deixar de esquecer aqui alguns para os quais ela continua fora do plano terreno.

O que quero dizer, por fim, é que muitos conheceram Jesus nestes retiros e reuniões, e, como eu lá em 2001, se tornaram "conhecidos" de Jesus, a amizade, no entanto, vem apenas com o tempo e busca  continua por Ele. É essa a mensagem que eu quero deixar, independente de você continuar ou não no grupo, na paróquia ou na Igreja, não se esqueça  do seu amigo Jesus, em alguns momentos de minha vida eu esqueci, e certamente tornarei a esquecê-lo em momentos futuros, mas espero ao final dessa peregrinação ter um ombro amigo para repousar eternamente.

Vai para encerrar duas canções destas de que cantamos em retiro, a primeira é uma profecia em 1ª pessoa, medite ela, a segunda é uma resposta, foi a inspiração para que eu escrevesse esse texto, dê você também essa resposta a Jesus, façamos dessas músicas nossa oração:

"Me diga onde tu te escondestes? Não vejo mais tuas orações, declarações, e a tua voz dizendo que eu era teu e o nosso Amor não tinha fim.

A saudade me faz chorar, não vou desistir de te ter aqui, vem pra cá volta para o teu lugar, quero tanto em fim de abraçar.
A saudade me faz chorar, não vou desistir de te ter aqui, vem pra cá volta para o teu lugar, quero tanto em fim de abraçar".
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"Eu conheci ao meu Jesus e o seu Amor me conquistou, a mim ele se revelou.
Agora eu sei falar do seu Amor sem fim aos meus irmãos, já que hoje eu posso tê-lo.

Jesus, Jesus, eu posso ter. Em minha vida, eu posso ter.
Jesus, Jesus, eu posso ter. Em minha vida, eu posso ter".


Escrito por Clóvis Jr., às 23h do dia 04/03/2012, sentado em casa pensando em Deus e em todos vocês que fizeram retiro junto comigo. Com os olhos lacrimejando. Orando pela vida de cada um dos que me coordenaram e me deram formações, dos que rezaram comigo e choraram comigo, suaram a camisa comigo e sorriram comigo, aqueles que continuam engajados e aqueles que não têm mais vontade de ir à Igreja, a todos você um beijo no coração.

domingo, 13 de março de 2011

Deus é o criador do mal?

Algumas ordens de consideração propedêuticas são necessárias antes de adentrar-se no cerne da questão sugerida. De inicio, para responder a proposta, devemos considerar o criacionismo como uma doutrina nascida no oriente médio com base nos livros sagrados das três grandes religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo), vez que são encontradas em outras religiões e nas culturas antigas diversas explicações das origens relacionadas com Deus, tais como tudo é Deus, sendo o mundo Deus (panteísmo); ou que o mundo é uma emanação necessária de Deus; ou o mundo é produto de uma queda, e, portanto, pode ser rejeitado ou superado (gnose); ou que o mundo foi criado por Deus e depois abandonado a si mesmo (deísmo) (IGREJA CATÓLICA, 2000, p. 84).
Em segundo lugar levaremos em conta que Deus (Iahweh ou Alá) é eterno e existe antes de tudo, sendo o criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Consideramos, ainda, que Deus é o sumo bem e ama sua criação com um amor infinito, conforme a Lei Sagrada dos Judeus (Torá), que coincide com os cinco primeiros livros da Bíblia cristã, segundo a qual “No princípio, Deus criou o céu e a terra”, Gênesis 1, 1 (BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2006, p. 33), bem como nos demais escritos sagrados, ao exemplo do profeta Isaías, 43, 4a, em que Deus fala direcionado à criação dizendo “Pois que és precioso aos meus olhos, é honrado e eu te amo” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2006, p. 1321). O monoteísmo islâmico segue a mesma linha, Maomé ressaltou “a crença num só Deus, que é criador e juiz. Esse Deus criou o mundo e tudo o que nele há”, no entanto, “Deus não é apenas um juiz onipotente; além disso, é repleto de amor e compaixão. Todas as suras do Corão começam com as palavras: ‘Em nome de Alá, o Misericordioso, o Compassivo” (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005, p. 133-134).
Para responder à questão, em principio, não se pode considerar o mundo a partir de uma concepção puramente maniqueísta, em que existe uma separação total entre o bem e o mal, isso porque o que é mau para uma determinada pessoa ou sociedade pode não ser considerado assim para outras. Ilustrando, realizar inseminação artificial utilizando sêmen doado pode ser um ato de grande alegria para uma família em que o esposo é infértil, porém, em algumas culturas, tal atitude é uma afronta à ordem natural das coisas.
É sadia, no entanto, a separação entre o que é bom e o que é ruim por meio de um dualismo ético, em que se estabelecem os patamares mínimos de dignidade humana que devem ser respeitados, tais como fazem as declarações internacionais de direitos humanos, sendo esta segunda forma de separação algo indispensável para vida em sociedade (BETTENCOURT, 1993, p. 480). E é este dualismo que servirá como base para responder a questão.


 A indagação sobre de onde provem o mal foi enfrentada por santo Agostinho de Hipona e é tratada em sua obra sobre o livre arbítrio, na transcrição do diálogo travado entre Agostinho e seu amigo Evódio. Em sua resposta Agostinho objeta que existem dois sentidos para a palavra “mal”, um de dizer que alguém praticou algum mal, e outro de afirmar que alguém sofreu algum mal. Quanto ao primeiro tipo de mal, Deus, como sumo bem, de forma alguma poderia praticar tal ato. Por outro lado, se Deus é justo, deve distribuir recompensas aos bons e punições aos que agem mal, tais punições, por seu turno, parecem males aos que as recebem. Visto sob esta ótica, Deus estaria sim criando o mal. Quanto ao primeiro gênero de mal o autor seria cada pessoa que comete a má ação. Abaixo transcrevo parte do diálogo em testilha:

Evódio. Peço-te que me digas, será Deus o autor do mal?
Agostinho. Dir-te-ei, se antes me explicares a que mal te referes. Pois, habitualmente, tomamos o termo "mal" em dois sentidos: um, ao dizer que alguém praticou o mal; outro, ao dizer que sofreu algum mal.
Ev. Quero saber a respeito de um e de outro.
Ag. Pois bem, se sabes ou acreditas que Deus é bom — e não nos é permitido pensar de outro modo —, Deus não pode praticar o mal. Por outro lado, se proclamamos ser ele justo — e negá-lo seria blasfémia —, Deus deve distribuir recompensas aos bons, assim como castigos aos maus. E por certo, tais castigos parecem males àqueles que os padecem. É porque, visto ninguém ser punido injustamente — como devemos acreditar, já que, de acordo com a nossa fé, é a divina Providência que dirige o universo —, Deus de modo algum será o autor daquele primeiro gênero de males a que nos referimos, só do segundo (AGOSTINHO, 1995, p. ).

Aprofundado a temática do mal, santo Agostinho ainda propõe uma análise do mal sob três aspectos: a) metafísico-ontológico; b) moral; c) físico (REALE, 2003, p. 97). Pela análise metafísico-ontológica não existe mal no cosmos, mas apenas graus inferiores de ser em relação a Deus, a partir da ponderação da finitude da coisa criada, em seus diferentes niveis de finitude, em relação à infinitude de Deus. Giovanni Reale (2003, p. 98) ilustra bem esta análise ao afirmar que as pessoas julgam a existência de certos animais nocivos como um mal criado por Deus, mas, na verdade, estão apenas medindo com o metro de nossa utilidade as vantagens que este animal nos tem, entretanto, “Medida com o metro do todo, cada coisa, mesmo aquela aparentemente mais insignificante, tem seu sentido e sua razão de ser e, portanto, constitui algo positivo”.
O mal moral, por seu turno, é o pecado, e depende da má vontade. Por sua natureza, a vontade deveria ser direcionada para o Bem supremo, contudo, em vista da existência de diversos bens criados e finitos, a vontade pode tender a estes em detrimento de Deus. “O mal moral, portanto, é uma aversio a Deo e uma conversio ad creaturam, é a escolha de um ser inferior ao invés do ser supremo” (REALE, 2003, p. 98). O mal moral é, assim, resultado das escolhas humanas.
O ma1 físico, por fim, como as doenças e a morte, tem origem na mal moral, em especial no pecado original.
O mal do dualismo ético, que corresponde ao mal moral de santo Agostinho, é, então, resultado do amor de Deus que criou os homens como seres livres, mas não é criação de Deus. São Tomás de Aquino referenda que o homem foi criado como ser racional, desta forma, é capaz de conhecer o fim pelo qual cada coisa tende por natureza, conhecendo uma ordem das coisas da qual Deus é o bem supremo e fazendo suas escolhas. Neste sentido Reale apresenta o pensamento do filósofo:

Naturalmente, se o intelecto pudesse oferecer a visão beatifica de Deus, a vontade humana não poderia deixar de querê-la. Mas, aqui embaixo, isso não é possível. Na vida terrena, o intelecto só conhece o bem e o mal de coisas e ações que não são de Deus. Portanto, a vontade é livre para querê-las ou não querê-las (REALE, 2003, p. 227).

Em conclusão, Deus é o sumo bem e ama sua criação, e porque a ama a fez livre para escolher seus rumos na vida terrena, e justamente porque possui este livre arbítrio que o homem, quando assim deseja, se afasta do criador e pratica o mal. Concorda-se com Ratzinger quando se vê que este é um risco que Deus optou por corre, pois não seria um Deus bom se escravizasse sua criação, “Um mundo criado e desejado com o risco da liberdade e do amor, não pode ser pura matemática. Como espaço vital do amor, ele torna-se palco das liberdades e aceita o risco do mal. Esse mundo enfrenta a aventura da treva com vistas a uma luz maior, luz que é liberdade e amor” (RATZINGER, 1970, p. 119-120).
O inferno, por seu turno, não é o mal criado por Deus, é apenas um estado que o individuo escolheu por afastar-se de Deus. Deus não envia as pessoas para o inferno, estas escolhem este caminho. Não há escravidão, então, na pregação da salvação eterna, é apenas uma proposta que a criatura pode aderir ou não.

REFERÊNCIAS

AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. Tradução Nair de Assis Oliveira. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1995.

BETTENCOURT, Estevão Tavares. O Bem e o Mal: Maniqueísmo? Revista Pergunte e Responderemos, Rio de Janeiro, n. 377, p. 479-480, 1993.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Bíblia sagrada. 4. imp. São Paulo: Paulus, 2006.

GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. Livro das religiões. Tradução Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja católica. São Paulo: Loyola, 2000.

RATZINGER, Joseph. Introdução ao cristianismo. São Paulo: Herder, 1970.

REALE, Giovanni. História da filosofia: patrística e escolástica, v. 2. Tradução Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Querido Jesus, a girafa você queria assim mesmo ou foi um acidente?

Faz tempo que não escrevo, não é hj que trago um texto todo meu, mas apresento um post muito legal em homenagem a Clóvis Neto, meu filhão de 04 meses...

Dizem que na Itália é comum que as criança escrevam cartas de Natal a Gesù Bambino (Menino Jesus) e não ao Papai Noel (tal atitude realmente parece mais coerente com a data). Em 2006 a editora Sonzogno lançou o livro "Caro Gesù: la giraffa la volevi proprio così o è stato un incidente? - I Bambini Parlando a Gesú" (Querido Jesus, a girafa você queria assim mesmo ou foi um acidente? - A criança falando com Jesus), uma coletânea do que as crianças costumam escrever nas redações da escola, nas aulas de catecismo e em bilhetinhos de  final de ano.

Abaixo estão as melhores frases, selecionadas pela versão eletrônica do jornal Corriere Della Sera:

"Querido Menino Jesus, todos os meus colegas da escola escrevem para o Papai Noel,  mas eu não confio naquele lá. Prefiro você.“
(Sara)

"Querido Menino Jesus, obrigado pelo irmãozinho. Mas na verdade eu tinha rezado pra ganhar um cachorro."
(Gianluca)

"Querido Jesus, por que você não está inventando nenhum animal novo nos últimos tempos? A gente vê sempre os mesmos."
  (Laura)

"Querido Jesus, por favor, ponha um pouco mais de férias entre o Natal e a Páscoa. No meio, agora está sem nada."
 (Marco)

"Querido Jesus, o padre Mário é seu amigo ou você conhece ele só do trabalho?"
 (Antonio)

"Querido Menino Jesus, por gentileza, mande-me um cachorrinho. Eu nunca pedi nada antes, pode conferir."
 (Bruno)

"Querido Jesus, talvez Caim e Abel não se matassem se tivessem um quarto pra cada um. Com o meu irmão funciona."
 (Lorenzo)

"Querido Jesus, eu gosto muito do padre-nosso. Você escreveu tudo de uma só vez, ou você teve que ficar apagando? Qualquer coisa que eu escrevo eu tenho que refazer um monte de vezes."
(Franco)

"Querido Jesus, nós estudamos na escola que se chama Thomas Edison, dizem que ele inventou a luz. Mas no catecismo dizem que foi você. Pra mim ele roubou a sua ideia."
(Daria)

"Querido Jesus, em vez de você fazer as pessoas morrerem e aí criar novas pessoas, por que você não fica com as que já tem?"
(Marcello)

"Querido Jesus, você é invisível mesmo ou é só um truque?"
(Giovanni)

Saudações de Paz e Bem!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

E se não existisse a mentira?


"Se dizes que mentes, ou estás dizendo a verdade e então estás mentindo, ou estás dizendo mentira e então dizes a verdade"

Cícero (106-43 a.C.) Academicontm reliquiae cum Lucullo, IV, 29, 96.

Seria confusa a existência da frase de Cícero em um "mundo" sem mentira, até mesmo pelo fato de que se não existisse a mentira, também não existiria o termo "mentira" (ou o termo "verdade" para se contrapor à mentira), mas esse mundo utópico é o cenário de "A Invenção da Mentira" (The Invention of Lying), filme de Ricky Gervais e Matthew Robinson, estrelado pelo próprio Gervais e pela bela Jennifer Garner, o enredo é bem bolado e servirá para minha breve (para não dizer brevíssima) reflexão sobre a mentira, lógico, ser também minha dica de filme.




Atenção - Esse texto pode conter spoiler (revelações sobre o enredo do filme) - sempre tive vontade de escrever isso...

O filme se passa em uma realidade em que a raça humana nunca desenvolveu a habilidade de mentir, todo mundo simplesmente só fala a verdade, a história começa afirmando que a vida das pessoas é comum, como em nosso mentiroso mundo, elas "têm carros, trabalhos, casas e famílias,mas todos dizem a verdade absoluta. Não existe tapeação, bajulação e nem ficção. As pessoas dizem exatamente o que pensam, e, às vezes, de uma forma ríspida. Mas não têm escolha nisso. É a natureza delas."

A idéia é hilária, e só isso já seria um prato cheio para uma boa comédia, entretanto, a obra não para por ai, como que em uma epifania o protagonista Mark Bellison adquire a habilidade de mentir e passa a usar isso em seu proveito próprio, e, de certa forma, tenta ajudar a comunidade em geral. O que mais me chamou a atenção foi quando Mark criou a figura do "Homem no Céu", ser que controla todas as coisas e que dá uma felicidade eterna a todos aqueles que morrem, não vou contar todo o filme para não estragar as surpresas daqueles que o resolvam assistir. (No filme, as propagandas da Coca e da Pepsi são ótimas)

Passo às minhas reflexões.

Afinal o que é a mentira?

O Dicionário Aurélio define mentir como "Afirmar coisa que sabe ser contrária à verdade". O Dicionário Priberam aponta sinônimos como "engano propositado, história falsa, aquilo que ilude". Aristóteles propôs duas espécies fundamentais de mentira, a jaetância, que consiste em exagerar a verdade, e a ironia, que consiste em diminuí-la.
Diante de todas estas aclarações, seria impossível definir "mentira" sem a "verdade", as duas estão inteiramente ligadas, são os correlativos que se completam, em que algo é aquilo que "é", e o outro algo é aquilo que "não é", tal como o mal e o bem.

Seria bom se não houvesse a mentira? Ou algumas vezes ela é necessária?

Suponhamos que você tenha um parente em estado terminal, e que este precise ser motivado para continuar lutando contra a doença, certamente suas palavras não serão "meu irmão, agora é só deitar e, como dizia o Raul, ficar com a boca escancarada, cheia de dentes,esperando a morte chegar". O exemplo ilustra bem como em algumas situações a mentira é necessária, e não nos transforma imediatamente em condenados ao Sheol. Outras formas de mentiras, aquelas impregnadas de uma esperteza individualista, construtoras de fraudes maquiavélicas, certamente devem ser reprovadas.

Se só pudéssemos afirmar aquilo que acreditamos como verdadeiro e real, afirmaríamos a existência de Deus e da vida após a morte terrena?

Essa é pergunta que eu deixo sem resposta, apesar de ter minha solução pessoal que não irei expor, pelo menos não agora, para não influenciar a sua própria reflexão.

Abçs a todos. Paz e Bem!


terça-feira, 20 de julho de 2010

O Ano Sacerdotal e a Batalha.

O texto abaixo é  católico, um bem escrito artigo de autoria de um padre católico, sobre um assunto essencialmente católico, aviso isso para que você pondere se o tema é de seu interesse. Com algumas pitadas de exagero, no geral é um excelente texto é vale a pena todo católico ler.




Quando em 2009 o Papa Bento XVI proclamou o Ano Sacerdotal, exortando a todos os fieis que orassem pela santificação dos sacerdotes, estava declarando uma verdadeira guerra ao Inferno. Afinal, foi o próprio Senhor Jesus quem recordou ao primeiro Papa que as forças do inferno não poderão vencer a Igreja (cf. Mt 16, 18).


Se esta certeza da vitória final da Igreja nos enche o coração de esperança, também nos serve de alerta. Enquanto estivermos neste mundo haverá combate. E neste combate é importante compreendermos a estratégia do inimigo.

Digo isto porque, o Inimigo não é estúpido. Muito pelo contrário, é inteligente e utiliza a sua inteligência e todas as suas forças para seu objetivo principal que é destruir a Igreja. E isto já estava previsto na profecia: “porei inimizade entre ti e a mulher” (Gn 3, 15). Mas é bom lembrar que, quando se trata de uma luta de vida e morte, todo lutador procura atingir o adversário em um de seus pontos vitais. Se existe a possibilidade de se atingir o inimigo com um tiro na cabeça ou no coração, porque desperdiçar munição atirando em seus pés? Ora, Satanás sabe perfeitamente qual é o ponto vital da Igreja: a Eucaristia. A Igreja vive da Eucaristia – Ecclesia de Eucharistia.

Se é assim, compreende-se imediatamente a importância vital do sacerdócio. Tentando destruir o sacerdócio católico e declarando guerra aberta aos nossos padres, o demônio está tentando destruir a Igreja, atingindo-lhe o coração. Sem sacerdotes não há Eucaristia, sem Eucaristia não há Igreja. Não nos deixemos enganar. A guerra midiática travada contra a Igreja ao redor dos escândalos sexuais de alguns sacerdotes não é uma batalha pela moralidade, nem uma preocupação com a castidade dos menores envolvidos. Em toda esta crise é o Santo Padre que tem manifestado enfaticamente a sua solidariedade às vítimas de abusos sexuais e tem dado orientações claras de que não devemos encobrir estes pecados vergonhosos.

É extremamente significativo que as mesmas pessoas que rasgam as vestes diante dos escândalos sexuais de padres, não façam nada para tutelar a pureza dos menores. Mas, ao contrário, apoiam a distribuição gratuita de camisinhas e lubrificantes sexuais aos nossos filhos, nas escolas públicas e em postos de saúde. Trata-se da mesma corja que patrocina programas de deseducação sexual em tvs abertas e alardeia como “direitos sexuais” as depravações da moda.

Não posso crer que estes lobos ferozes, que em sua maioria leva uma vida muito distante da castidade cristã, tenham se transformado milagrosa e repentinamente em uma legião de anjos da guarda, que zelam pela pureza de nossos filhos. Diria que mais se parecem com aqueles abutres que rodeiam um animal ferido e que fazem o possível para lhe abreviar a agonia para tirar proveito, o quanto antes, de sua carcaça. E a vítima, quem é? Um punhado de padres pedófilos? Não, mas sim o sacerdócio católico.

Não nos iludamos. Esta reação em massa não se explica apenas como um empreendimento humano. São Paulo nos lembra que não é contra a carne e contra o sangue que lutamos, mas contra espíritos malignos espalhados pelo espaço (cf. Ef 6, 12). A raiz do problema é portanto espiritual. E, se é assim, qual deve ser a nossa reação espiritual? Precisamos crer mais fortemente no sacerdócio católico; rezar e oferecer sacrifícios pela conversão e santificação dos sacerdotes, não somente neste ano sacerdotal, mas sempre.

Precisamos nos dar conta da grandeza do sacerdócio e da fragilidade de nossos sacerdotes. A grandeza do sacerdócio nos leva a considerar humildemente o quanto dependemos destes ministros do Senhor. Sem eles não temos as duas coisas mais importantes que podemos fazer em nossa vida espiritual: receber o perdão dos pecados e a eucaristia.

Esta grandeza do sacerdócio me leva a ser ousado e a professar minha fé neste grande dom de Deus. Já disse várias vezes, e algumas pessoas se escandalizaram com isto, que se na hora de minha morte eu tivesse de escolher entre ter ao meu lado a Virgem Imaculada e um sacerdote imundo e criminoso, eu preferiria ter o sacerdote. E a razão é muito simples. Nossa Senhora é maior e mais santa do que aquele padre miserável, mas não sendo sacerdote, ela não pode me dar os últimos sacramentos e o perdão de meus pecados. O sacerdote pode.

Por felicidade nossa, porém, nós católicos não precisamos fazer esta escolha. Podemos ter em nosso leito de morte, ao mesmo tempo, nossa Mãe santíssima e um sacerdote que, esperemos, esteja trilhando o caminho da santidade e da virtude.Como uma arma neste combate, Deus nos presenteou com o Papa certo, na hora certa. Ele não é apenas um grande teólogo, mas também um homem espiritual que sabe com que armas a Igreja pode lutar. A Igreja não vive de reuniões, marketing e estratégias. A Igreja vive da Eucaristia. E os sacerdotes são os instrumentos de Deus que nos fazem entrar nesta vida. Ao convocar um ano sacerdotal para a santificação dos sacerdotes, o Santo Padre o Papa se colocou na linha de frente de uma grande batalha espiritual.

Por isto, recordemo-nos também de rezar e oferecer sacrifícios por este grande homem de Deus, o Papa Bento XVI. Que o Senhor o conforte nesta grande batalha espiritual e lhe dê a certeza de que não está sozinho, mas cercado de uma multidão de irmãos (cf. Rm 8,29).


Autor: Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Verbete do Dia: SOLIPSISMO

Passarei a postar no blog alguns verbetes que serão necessários para compreensão de futuros textos.

SOLIPSISMO (in. Solipsism- fr. Solipsisme; ai. Solipsísmus; it. Solipsísmo).

Tese de que só eu existo e de que todos os outros entes (homens e coisas) são apenas idéias minhas. Os termos mais antigos para indicar essa tese são egoísmo (cf. WOLFF, Psychologia rationalis. § 38; BAUMGARTEN. Met., § 392; GANUPPI, Saggio filosófico sulla critica delia conoscenza, IV, 3, 24, etc), egoísmo metafísico (KANT, Antr, I, § 2) ou egoísmo (SCHOPENHAUER, Die Welt, I ,§ 19).

Kant empregou o termo S. para indicar a totalidade das inclinações que produzem felicidade quando satisfeitas (Crít. R. Prática, I, livro 1, cap. III; tracl. it.. p. 85); esse mesmo termo foi empregado para indicar o egoísmo metafísico por alguns escritores alemães da segunda metade do séc. XIX (cf. SCHUBERT-SOLDERN, Grundlagen zu einer Erkenntnistheorie, 1884, pp. 83 ss.; W. SCHUPPI, Der Solipsismus, 1898; H. DRIESCH, Ordnungslehre, 1912, pp.23 ss., etc).

Como já notava Wolff, o S. éuma espécie de idealismo que reduz a idéias não só as coisas, mas também os espíritos (Psychol. rat.. § 38). Freqüentemente, o S. foi declarado irrefutável, pelo menos com provas teóricas: tal era a opinião de Schopenhauer (loc. cit.), muitas vezes repetida (cf. RENOUVIER. les dilemmes dela métaphysique purê, 1901; A. LEVI, Sceptica. 1921; SARTRE, Vêtre et le néant.1943, p. 284). Na realidade, o S. só é irrefutável do ponto de vista idealista (com o qual coincide), segundo o qual os atos ou as ações do sujeito são conhecidos de maneira imediata, privilegiada e absolutamente segura.

Foi a aceitação (explícita ou implícita) dessa tese que por vezes levou a adotar o S. como ponto de partida obrigatório da teoria do conhecimento (cf., p. ex., DRIESCH, Op. cit.,p. 23) ou como procedimento metodológico (SCHUBERT-SOLDERN, Op. cit., pp. 65 ss.). Este último ponto de vista foi adotado pelo positivismo lógico, especialmente por Wittgenstein e Carnap. O primeiro, tendo observado que "os limites de minha linguagem constituem os limites de meu mundo" (Tractatus, 5, 6), concluiu "ser absolutamente correto o significado do S., que, apesar de não poder ser dito, manifesta-se. O ato de os limites da linguagem (da linguagem que só eu entendo) constituírem os limites do meu mundo revela que o mundo é o meu mundo" (Ibid., 5.62) e que, portanto,"eu sou o meu mundo" (Ibid., 5.63). Mas, assim entendido, o S. transforma-se imediatamente em realismo: "O S. rigorosamente desenvolvido coincide com o realismo puro. O eu do positivismo reduz-se a um ponto inextenso, e a realidade a ele se coordena" (Ibid., 5.64). O pressuposto desse discurso é a teoria segundo a qual a correspondência entre os elementos da linguagem e os da realidade se dá termo a termo, e os elementos da realidade se reduzem a fatos de experiência imediata, sendo, pois, apenas meus. Quando faltam tais fatos, falta o significado (o objeto) da palavra, e eu não a entendo: portanto, Wittgenstein diz que os limites de minha linguagem são os limites do mundo. O mesmo pressuposto leva Carnap a falar de S. melódico. Com muita razão Carnap fala de S. a propósito da escolha dos elementos básicos (Grundelemente), porque, como através de tais elementos (que servem de base para a construção lógica do mundo) Carnap escolhe (assim como Wittgenstein) os fatos imediatos da experiência, ou, como diz ele, "a base psíquica própria", seu procedimento é solipsista (DerlogischeAufbau der Welt, 1928, § 64).

J. R. Weinberg já observava que no positivismo lógico o S. lingüístico é inevitável; por isso, uma vez que é necessário superá-lo para atingir a objetividade científica, "ou se alteram necessariamente alguns postulados do sistema para isentar o positivismo das idéias metafísicas, ou — se esse método falhar — será preciso abandonar todo o sistema do positivismo lógico" (An Examination of Logical Positivism, cap. VII; trad. it., pp. 235 ss.). Na realidade, o pressuposto do positivismo que dá origem ao S. é reflexo da tese idealista na teoria da linguagem: os elementos da linguagem são signos de experiências imediatas, porque as experiências imediatas são a única realidade.

Fonte: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia.5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 918-919

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Inflação Legislativa versus Ineficiência Parlamentar: um paradoxo.

Neste primeiro semestre de 2010 foram sancionadas 95 (noventa e cinco) leis federais (informações do site da Presidência da República – www.presidencia.gov.br), média de uma lei por dia (consideramos os dias úteis, descontando os pontos facultativos e dias de jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futebol, e levando em conta que a sessão legislativa inicia-se em 2 (dois) de fevereiro, conforme o art. 57 da Constituição Federal). Se sopesarmos, ainda, as legislações estaduais e municipais, bem como a imensidão de regulamentos e provimentos dos Poderes Executivo e Judiciário, os tratados internacionais e as emendas à Constituição, podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que cada brasileiro se depara com pelo menos 03 (três) novas normas ao dia. São três novos textos que nascem por dia para regular nossas vidas, nem mesmo os mais empenhados juristas conseguem acompanhar tal atualização. Essa proliferação excessiva de leis é tecnicamente conhecida como “inflação legislativa” ou "hiper-regulação".

Se num belo final de semana uma pessoa se dirige a um bar à beira de qualquer uma das suntuosas praias do nosso país e pede uma caipirinha, poderá reclamar se as especificações da bebida servida não coincidirem com aquelas previstas no Decreto Federal n. 6.871/2009, regulamento da Lei n. 8.918/1994, in verbis:

Art. 68 ...
§ 5º A bebida prevista no caput, com graduação alcoólica de quinze a trinta e seis por cento em volume, a vinte graus Celsius, elaborada com cachaça, limão e açúcar, poderá ser denominada de caipirinha (bebida típica do Brasil), facultada a adição de água para a padronização da graduação alcoólica e de aditivos.
§ 6º O limão poderá ser adicionado na forma desidratada.

O exemplo acima apenas ilustra como no Brasil fazem-se normas para tudo, e, apenas para engrandecer esta afirmativa, cito algumas leis sancionadas em 2010: a) Lei n. 12.285 (que confere ao Município de Apucarana/PR o título de Capital Nacional do Boné); b) Lei n. 12.282 (que confere ao Município de Imbituba/SC o título de Capital Nacional da Baleia Franca); c) Lei n. 12.198 (que conceitua Repentista como profissional que utiliza o improviso rimado como meio de expressão artística cantada, falada ou escrita, compondo de imediato ou recolhendo composições de origem anônima ou da tradição popular); d) Lei n. 12.206 (que institui o Dia Nacional da Baiana de Acarajé); e) Lei n. 12.208 (que institui o Dia do DeMolay).

Nada contra os municípios de Apucarana e Imbituba, ou contra os repentistas, baianas e demolays, mas cabe a nós questionarmos se realmente tais assuntos deveriam ser matéria de lei federal, note-se, das mais importantes espécie legislativa, submissa no ordenamento jurídico apenas à Constituição. Certamente estas leis foram apreciadas pelo procedimento legislativo abreviado, ou seja, não foram votadas pelo Plenário das Casas, mas sim por membros de comissões, que nem por isso deixam de ser leis, e leis tratando de assuntos secundários.

Este fato é consequência da crença de que todos os problemas e situações possíveis da sociedade devem ser regulados e resolvidos por meio de dispositivos normativos, crença esta que é uma consequência do conceito de lei como instrumento duradouro e confiável, consolidada em códigos organizados e coesos, apresentados pela burguesia capitalista do século XIX, que utilizava as leis para gerar certa segurança jurídica que protegia seus interesses liberais com certeza e previsibilidade. Depois deste acontecimento passou a se pensar que só poderíamos ter segurança de algo se este fosse resguardado por lei.

Esta “poluição normativa”, como afirma o lusitano Paulo Castro Rangel (In: Inflação legislativa: doença ou mutação genética?, disponível em: contrariosensu.blogspot.com/2005/05/inflao-legislativa.html), gera apenas mais descrédito às leis, vez que estas, por serem inúmeras, acabam, por desconhecimento ou por simples anarquia, não sendo aplicadas.

Desta breve análise, percebemos que é incorreto afirmar que os parlamentares brasileiros não legislam, eles legislam (e muito), só não o fazem de forma adequada, muitas vezes se ocupam de assuntos anódinos e não atendem às verdadeiras demandas jurídicas e sociais.

É certo que o processo legislativo de cada lei necessita de largo debate interpartidário e com os representantes sociais, e essa tramitação leva tempo, entretanto, muitas vezes, quando a lei é aprovada a realidade social é totalmente diversa daquela à época da apresentação do projeto (o grande exemplo é Código Civil, aprovado em 2002, mas que teve seu anteprojeto apresentado ao Congresso Nacional em 1975), sem contarmos que muitas leis são eleitoreiras ou interesseiras e, por serem feitas com atropelo e casuísmo, acabam por ser incompletas e até mesmo inconstitucionais (ao mesmo tempo em que o Congresso aprovou 95 (noventa e cinco) novas leis, 65 (sessenta e cinco) Ações Diretas de Inconstitucionalidade foram propostas no Supremo Tribunal Federal, www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/pesquisarPeticaoInicial.asp).

O processo judicial brasileiro (Penal e Civil) necessita de uma revisão legislativa geral, isso há muito tempo é falado e algumas alterações pontuais realmente são feitas, estas apenas servem de paliativo, no entanto, não sanam os problemas, a revisão geral ainda está sendo devida pelo legislativo. Em um antigo artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, Francisco Rezek(In: O Direito que Atormenta, p. 03, caderno 1, 15 nov. 1998), que já foi Ministro do STF e Juiz da Corte Internacional de Justiça da ONU, escreveu que:

"Há no Direito brasileiro dois vícios graves pedindo, já faz tempo, remédio urgente. Nossas regras de processo, antes de tudo, parecem não querer que o processo termine. Os recursos possíveis são muitos (creio não haver fora do Brasil trama recursiva tão grande e complicada), e pouca gente hoje crê que isso ajude mesmo a apurar melhor a verdade para melhor fazer justiça.[...] De outro lado, as regras de direito material que o legislador edita com fartura têm sido a matriz de processos em larga escala, sobretudo quando é o governo que legisla, sem o pressuposto do debate parlamentar. Numa equação simples, toda demanda é o resultado de duas pessoas haverem entendido coisas diferentes ao ler a mesma norma. A simplicidade e a clareza da lei previnem demandas. Mas pouco se tem feito entre nós para isso, para evitar, com a qualidade da lei, que à sua edição sobrevenham processos em cascata. [...] Isso não pede mais que algum trabalho, método e consciência do legislador”.

Outras leis importantes, como a que regula o direito de greve no serviço público (art. 37, VII, da CF) ou a que trata da incorporação, fusão e desmembramento de municípios (art. 18,§ 4º, da CF) nunca foram votadas, apesar de serem previstas desde 1988 na Carta Magna como uma ordem ao Poder Legislativo.

Deste modo podemos afirmar, paradoxalmente, que o Parlamento legisla muito e ao mesmo tempo legisla pouco, atua com lentidão ao enfrentar os assuntos mais pujantes, deixando assim de atender grande parte das demandas sociais.

Por fim, acrescentamos que em determinados casos em que o Poder Legislativo cumpre sua função legiferante, são os órgãos de execução que deixam a desejar no cumprimento das normas, perfazendo estas em letra morta.